"Ouves o desalento no meu pensar
Sentes o cansaço a parar a corrida
A voz que não sai com medo de falhar
Pedidos secretos a ansiar guarida.
Sei que a resistência vai desafinar
Que o peso vazio quer desprender
O passo certeiro teima em avançar
(...)
Queria perceber o porquê deste vazio
E agarro-me ao riso p'ra me defender
Se o sol aquece, porquê este frio?
(...)"
Maria de Vasconcelos, "Enlouquecer"
sexta-feira, 16 de março de 2012
quarta-feira, 14 de março de 2012
Num coraçãozinho pequenino...
A meio de um dia...
Caminha a criança...
Salta uma poça de água...
Por estar suja, pára...
E põe o olhar num velho sapo perdido na lama...
-Olá sapo... A tua casa está imunda... Precisas de ajuda!
Pega no seu novo amigo...
Leva-o... Mimando...Lavando...
Foram anos de amor que o menino deu ao seu amigo...
Após a partida do seu companheiro...
Escreveu-lhe uma carta...
-"Querido amigo... Sou só uma criança...
O meu tamanho é pouco...
Vejo o céu no azul...
Que os grandes também veêm ...
Tenho a esperança de crescer...
E fazer para que o meu mundo me consiga ver...
Sou pequeno...
Em mim não cabe ser mau... ou ter veneno...
Sou uma ciança...
Em mim só mora a Esperança...
Meu amigo...
Para onde foste... Só existem crianças..."
por alguém...
Caminha a criança...
Salta uma poça de água...
Por estar suja, pára...
E põe o olhar num velho sapo perdido na lama...
-Olá sapo... A tua casa está imunda... Precisas de ajuda!
Pega no seu novo amigo...
Leva-o... Mimando...Lavando...
Foram anos de amor que o menino deu ao seu amigo...
Após a partida do seu companheiro...
Escreveu-lhe uma carta...
-"Querido amigo... Sou só uma criança...
O meu tamanho é pouco...
Vejo o céu no azul...
Que os grandes também veêm ...
Tenho a esperança de crescer...
E fazer para que o meu mundo me consiga ver...
Sou pequeno...
Em mim não cabe ser mau... ou ter veneno...
Sou uma ciança...
Em mim só mora a Esperança...
Meu amigo...
Para onde foste... Só existem crianças..."
por alguém...
terça-feira, 13 de março de 2012
Borboletas em mim...
Passa uma borboleta por diante de mim
E pela primeira vez no Universo eu reparo
Que as borboletas não têm cor nem movimento,
Assim como as flores não têm perfume nem cor.
A cor é que tem cor nas asas da borboleta,
No movimento da borboleta o movimento é que se move,
O perfume é que tem perfume no perfume da flor.
A borboleta é apenas borboleta
E a flor é apenas flor.
Alberto Caeiro
E pela primeira vez no Universo eu reparo
Que as borboletas não têm cor nem movimento,
Assim como as flores não têm perfume nem cor.
A cor é que tem cor nas asas da borboleta,
No movimento da borboleta o movimento é que se move,
O perfume é que tem perfume no perfume da flor.
A borboleta é apenas borboleta
E a flor é apenas flor.
Alberto Caeiro
segunda-feira, 12 de março de 2012
Crise e politicos sem vergonha
Cada vez que oiço politicos a falar sinto nojo, apetece-me vomitar. Que corja sem escrúpulos que mente sem vergonha só para conseguir votos. Ele engana, mente, rouba e se deixa corromper com um prostituta velha sem vergonha da vida que tem. Alguns são mesmo prostitutas das mais reles e baratas que possa haver. Fazem-se de coitadinhos. Pelo menos as profissionais do sexo sabem fazer alguma coisa ao invés dos políticos que raramente sabem fazer alguma coisa útil. Veja à situação em que chegou Portugal, de joelhos a mendigar ajuda aos outros países, pois foi abusado pelos políticos míopes que não veem mais que a suas próprias barrigas. Sempre ávidas de comer envelopes brancos recheadas de sementes do diabo para gaudio dos porcos que engordam à custa do engano e do roubo. Dizem que vivemos em democracia, mas eu acho que vivemos numa “porcacracia” e a rotação dos governantes não é mais que a mudança de moscas na mesma terina de porcaria. Agora desresponsabilizam-se, que a crise é de todos, que foram governantes que governaram mal o país, como se estes políticos de lixo não fossem eles mesmo governantes tanto no presente como no passado e a cada legislatura os partidos perdessem todos os seus pecados e traições à pátria e ao povo português. Hipotecaram o nosso futuro para fazerem negociatas onde muitos fizeram negócios de amigos com rentabilidades sem comparação. O meu medo é que este aumentar de impostos sem fim que nos atira todos para a pobreza, não seja mais que um esforço sem resultado, até porque não confio em pecadores transvertidos de salvadores.
Durão Barroso, Guterres, Cavaco e Sócrates “shame on you”… como se tivessem alguma vergonha.
Durão Barroso, Guterres, Cavaco e Sócrates “shame on you”… como se tivessem alguma vergonha.
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sexta-feira, 25 de março de 2011
Os amantes sem dinheiro de Eugénio de Andrade
OS AMANTES SEM DINHEIRO
Tinham o rosto aberto a quem passava.
Tinham lendas e mitos
e frio no coração.
Tinham jardins onde a lua passeava
de mãos dadas com a água
e um anjo de pedra por irmão.
Tinham como toda a gente
o milagre de cada dia
escorrendo pelos telhados;
e olhos de oiro
onde ardiam
os sonhos mais tresmalhados.
Tinham fome e sede como os bichos,
e silêncio à roda dos seus passos.
Mas a cada gesto que faziam
um pássaro nascia dos seus dedos
e deslumbrado penetrava nos espaços.
Eugénio de Andrade
Tinham o rosto aberto a quem passava.
Tinham lendas e mitos
e frio no coração.
Tinham jardins onde a lua passeava
de mãos dadas com a água
e um anjo de pedra por irmão.
Tinham como toda a gente
o milagre de cada dia
escorrendo pelos telhados;
e olhos de oiro
onde ardiam
os sonhos mais tresmalhados.
Tinham fome e sede como os bichos,
e silêncio à roda dos seus passos.
Mas a cada gesto que faziam
um pássaro nascia dos seus dedos
e deslumbrado penetrava nos espaços.
Eugénio de Andrade
quinta-feira, 24 de março de 2011
Balada da neve - Augusto Gil
Batem leve, levemente,
como quem chama por mim.
Será chuva? Será gente?
Gente não é, certamente
e a chuva não bate assim.
É talvez a ventania:
mas há pouco, há poucochinho,
nem uma agulha bulia
na quieta melancolia
dos pinheiros do caminho...
Quem bate, assim, levemente,
com tão estranha leveza,
que mal se ouve, mal se sente?
Não é chuva, nem é gente,
nem é vento com certeza.
Fui ver. A neve caía
do azul cinzento do céu,
branca e leve, branca e fria... .
Há quanto tempo a não via!
E que saudades, Deus meu!
Olho-a através da vidraça.
Pôs tudo da cor do linho.
Passa gente e, quando passa,
os passos imprime e traça
na brancura do caminho...
Fico olhando esses sinais
da pobre gente que avança,
e noto, por entre os mais,
os traços miniaturais
duns pezitos de criança...
E descalcinhos, doridos...
a neve deixa inda vê-los,
primeiro, bem definidos,
depois, em sulcos compridos,
porque não podia erguê-los!...
Que quem já é pecador
sofra tormentos, enfim!
Mas as crianças, Senhor,
porque lhes dais tanta dor?!...
Porque padecem assim?!...
E uma infinita tristeza,
uma funda turbação
entra em mim, fica em mim presa.
Cai neve na Natureza
e cai no meu coração.
Augusto Gil
como quem chama por mim.
Será chuva? Será gente?
Gente não é, certamente
e a chuva não bate assim.
É talvez a ventania:
mas há pouco, há poucochinho,
nem uma agulha bulia
na quieta melancolia
dos pinheiros do caminho...
Quem bate, assim, levemente,
com tão estranha leveza,
que mal se ouve, mal se sente?
Não é chuva, nem é gente,
nem é vento com certeza.
Fui ver. A neve caía
do azul cinzento do céu,
branca e leve, branca e fria... .
Há quanto tempo a não via!
E que saudades, Deus meu!
Olho-a através da vidraça.
Pôs tudo da cor do linho.
Passa gente e, quando passa,
os passos imprime e traça
na brancura do caminho...
Fico olhando esses sinais
da pobre gente que avança,
e noto, por entre os mais,
os traços miniaturais
duns pezitos de criança...
E descalcinhos, doridos...
a neve deixa inda vê-los,
primeiro, bem definidos,
depois, em sulcos compridos,
porque não podia erguê-los!...
Que quem já é pecador
sofra tormentos, enfim!
Mas as crianças, Senhor,
porque lhes dais tanta dor?!...
Porque padecem assim?!...
E uma infinita tristeza,
uma funda turbação
entra em mim, fica em mim presa.
Cai neve na Natureza
e cai no meu coração.
Augusto Gil
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quarta-feira, 23 de março de 2011
Cristo de Sebastião da Gama
À minha cabeceira o cristo morre
de puro dó. Silenciosamente,
de cabeça caída para a frente
um fio de sangue, ainda vivo, escorre.
Puseram-mO ali como um remorso.
Não quiseram matá-lO de uma vez,
pra m'O porem ali como um remorso.
Tem os olhos abertos. tristes..., tristes...
E a suaboca quase que me fala,
como quem repreende meigamente.
Quando me vou deitar, já nem O olho.
Apago a minha vela bruscamente,
pra não ver os Seus olhos que me doem
como um remorso antigo.
Por que não ficou morto no Calvário,
apodrecendo aos Astros indiferentes?
por que veio morrer para o meu quarto,
Com esses olhos suaves que me acusam,
com esses lábios tristes que me pedem
que O não deixe morrer tão sem-razão?
Tem quase dois mil anos o meu quarto.
E em mais de mil das noites destes anos
eu apaguei a vela para não ver
a agonia do cristo, que me acusa.
Mas Ele rasga a escuridão da Noite.
Mas Ele rasga o sono em que me oculto
e vem, solto da cruz a que O prendi,
continuar, no fundo da minh'alma,
Seu estertor.
Seus olhos brilham mais na escuridão...
Pra de todo morrer,
como que espera apenas o segundo
de eu Lhe pedir perdão.
Sebastião da Gama
de puro dó. Silenciosamente,
de cabeça caída para a frente
um fio de sangue, ainda vivo, escorre.
Puseram-mO ali como um remorso.
Não quiseram matá-lO de uma vez,
pra m'O porem ali como um remorso.
Tem os olhos abertos. tristes..., tristes...
E a suaboca quase que me fala,
como quem repreende meigamente.
Quando me vou deitar, já nem O olho.
Apago a minha vela bruscamente,
pra não ver os Seus olhos que me doem
como um remorso antigo.
Por que não ficou morto no Calvário,
apodrecendo aos Astros indiferentes?
por que veio morrer para o meu quarto,
Com esses olhos suaves que me acusam,
com esses lábios tristes que me pedem
que O não deixe morrer tão sem-razão?
Tem quase dois mil anos o meu quarto.
E em mais de mil das noites destes anos
eu apaguei a vela para não ver
a agonia do cristo, que me acusa.
Mas Ele rasga a escuridão da Noite.
Mas Ele rasga o sono em que me oculto
e vem, solto da cruz a que O prendi,
continuar, no fundo da minh'alma,
Seu estertor.
Seus olhos brilham mais na escuridão...
Pra de todo morrer,
como que espera apenas o segundo
de eu Lhe pedir perdão.
Sebastião da Gama
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